Vamos juntas reconstruir a velhice?

Envelhecer com dignidade e qualidade de vida. Esse é nosso grande desejo e nossa maior questão.

Porque, de modo geral, o envelhecimento chega para nós como uma ameaça: estamos fadados a definhar, adoecer e, obviamente, morrer.

Na minha caminhada profissional tive a honra de trabalhar com idosos saudáveis, lúcidos e independentes, e idosos demenciados, totalmente dependentes, com idades variadas entre 70 e 90 anos. Mas também acompanhei mulheres de 45 a 60 anos abatidas e derrotadas com a ideia de que o envelhecimento afinal chegou!

Graças aos avanços científicos e tecnológicos, a longevidade é um fenômeno da nossa época. E se o Brasil, há algumas décadas apenas era o país dos jovens, hoje caminhamos pelas ruas e nos deparamos com cada vez mais idosos. Acompanhados ou independentes, carregam muitas vezes um corpo pesado, olhar baixo, uma resignação diante do envelhecimento.

Será que precisa ser assim? Como dar uma nova identidade para a nossa velhice?

Gosto de pensar que somos envelhescentes desenhando um novo caminho a ser percorrido, buscando um novo projeto de vida. Gosto de imaginar que é possível construir um outro significado para o envelhecimento, enxergá-lo como uma grande oportunidade de repensar o passado, viver o presente e programar o futuro.

De fato, precisamos reconstruir a velhice!

E esta reconstrução passa pela possibilidade de redescobrir a própria voz, de mostrar-se vivo perante a família. Reconhecer o “aqui e agora” como a chave para a possibilidade de se perceber, se olhar e estar: uma nova qualidade de presença no mundo.

A arte é um caminho e o atelier, um precioso aliado no processo de novas descobertas.

O pensador romano, Cícero, dizia lá em 63dC que “é preciso resistir à velhice e combater seus inconvenientes à força de cuidados; é preciso lutar contra ela como se luta contra a doença. Mas não basta estar atento ao corpo; é preciso ainda mais ocupar-se do espírito e da alma”.

Vamos juntas acender a chama de vida existente em cada uma e refletir sobre essa etapa da vida não com desesperança, mas com a gratidão de quem conquistou tanto, com a alegria de poder acompanhar todos os iPhones e iPads, de poder reunir-se com amigos e refletir sobre essa etapa, estabelecer projetos, enfim, viver!

Nos encontros do Terceiro Ato, aqui no Espaço Aurora, vamos criar possibilidades para uma discussão mais profunda, franca e aberta  dessa etapa. Remexendo e revivendo suas experiências, o Programa Aurora Terceiro Ato vai facilitar esse reencontro e uma re-significação da vida como ela é.

“Envelhecer vivendo

é belo

como tudo o que vivemos”. 

Pablo Neruda – Ode ao tempo

Por Deolinda Fabietti